A exaustiva arte de dar conta de tudo (e o preço invisível que a gente paga por isso)

by - maio 26, 2025

Fotinho que eu tiro quando estou viajando com o mozão
 


Quem nunca respondeu “tudo bem, só na correria mesmo”, que atire a primeira notificação do WhatsApp.

Vivemos em uma era em que "dar conta de tudo" virou quase uma moeda social. Quanto mais sobrecarregada você está, mais parece que está vivendo certo. O mundo aplaude quem consegue trabalhar 8h por dia, estudar, treinar, fazer skincare, ler 10 páginas de um livro por noite, responder todas as mensagens no Instagram, meditar, se hidratar e ainda sorrir com os dentes todos no lugar.

Mas a real é que esse "dar conta" virou uma prisão disfarçada de produtividade. Uma performance diária pra mostrar que a gente está vencendo na vida, quando na verdade só estamos vencendo no cansaço.

Eu já me peguei, várias vezes, com aquela sensação de que, mesmo fazendo muito, ainda era pouco. Que eu podia ter respondido mais rápido, entregue com mais capricho, lidado com mais leveza, sido mais presente, mais eficiente, mais produtiva, mais paciente, mais isso, mais aquilo. É um eterno não tô fazendo o suficiente. E o mais louco: mesmo quando eu finalmente terminava todas as pendências, não vinha a paz. Vinha mais uma tarefa pra enfiar no check-list da vida.

O problema de tentar dar conta de tudo é que, inevitavelmente, a gente acaba se deixando por último. E sabe o que é mais irônico? A gente tem tanto medo de decepcionar os outros que nem percebe o quanto tá se decepcionando com a gente mesma. E isso cansa. Cansa de um jeito que nem o melhor rolê ou a série mais levinha no sofá conseguem curar.

Existe uma cobrança silenciosa, que não vem dos outros diretamente, mas que a gente internaliza desde cedo. Seja porque fomos ensinadas a ser fortes, guerreiras, multitarefas, seja porque aprendemos que descanso é sinônimo de preguiça, ou que pedir ajuda é fraqueza. Como se ser autossuficiente fosse a única forma de ser levada a sério.

Mas a verdade é: ninguém dá conta de tudo. E tudo bem.

É preciso coragem pra admitir isso. Porque admitir que a gente não dá conta é, de certa forma, nadar contra a corrente. É dizer pro mundo que a sua saúde mental vale mais que a sua produtividade. É reconhecer que a vida não é uma maratona onde quem se esgota primeiro ganha. É saber dizer "não consigo agora", "não posso assumir mais isso", "eu preciso parar". E, olha... isso é libertador.

Eu tô aprendendo (aos poucos, tropeçando aqui e ali) que dar conta de tudo não é sinônimo de sucesso. Que minha felicidade não pode depender de uma agenda cheia. Que minha saúde mental não pode ser o preço de uma entrega impecável. Que a vida não é um checklist.

Às vezes, dar conta de tudo significa escolher o que é realmente prioridade naquele momento. E tudo bem se, em certos dias, a prioridade for simplesmente existir em paz. Tomar um banho demorado. Ficar quieta. Comer sem pressa. Falar com alguém que faz bem. Deitar no sofá sem culpa. Não postar nada. Não ser nada, só ser.

É difícil? Demais. Especialmente quando o mundo continua girando num ritmo frenético e as pessoas ao redor parecem estar indo mais rápido que você. Mas aí entra um ponto importante: a gente precisa parar de se comparar com quem está correndo uma corrida completamente diferente da nossa. Cada um tem o seu tempo, os seus limites, os seus desafios invisíveis.

E sabe o que mais? Cuidar da gente também é dar conta. Dar conta das nossas emoções, da nossa energia, do nosso corpo, dos nossos silêncios. E isso não aparece no LinkedIn, nem no feed do Instagram, mas é tão importante quanto — senão mais.

Então, da próxima vez que você sentir que tá ficando pra trás, que tá falhando por não dar conta de tudo, respira. Lembra que você é humana. Lembra que existe beleza no inacabado, no imperfeito, no quase. Lembra que não existe medalha pra quem mais se desgasta tentando provar que consegue.

E, principalmente, lembra que você não precisa fazer tudo. Você só precisa fazer o que é seu. O que te faz bem. O que te deixa leve. O que é possível naquele dia, com a energia que você tem. E isso já é mais do que suficiente.

Você não tá sozinha nessa. Tá todo mundo cansado fingindo que tá tudo sob controle. Então se você tiver que escolher entre manter as aparências ou cuidar de si, escolha você. Sempre você.

Com carinho,
Paloma 💜

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